Ciberativismo e Sustentabilidade: A Juventude e os Desafios da Era Digital

Compartilhe
Facebook
X
LinkedIn
WhatsApp

Guilherme Augusto Siebeneichler
Pedagogo, Pós-graduando em Juventude no Mundo Contemporâneo (FAJE) e Educação, Tecnologia e Sociedade (IFPR)

Queridos amigos do Centro MAGIS Anchietanum, agradeço ao convite para desenvolver uma reflexão sobre a transformação das relações sociais, políticas e culturais em um contexto cada vez mais digitalizado. Ao me ater ao tema do Dia Internacional da Juventude nesse 12 de agosto, que tem por tema “Dos Cliques ao Progresso: Percursos Digitais para o Desenvolvimento Sustentável”. No âmago dessa discussão está o ciberativismo, uma forma emergente de mobilização que utiliza as plataformas digitais como ferramentas centrais para a ação social. Nessa perspectiva, essa prática não só redefine as noções de ativismo, mas também remodela a forma como os jovens se engajam na luta por direitos e na construção de um futuro mais sustentável.

Para iniciar nossa reflexão, gostaria de tratar sobre o surgimento do ciberativismo:

O termo “ciberativismo” surgiu nos anos 1990 para indicar uma ampla e heterogênea quantidade de movimentos, caracterizados por um novo tipo de participação que ocorria por meio do uso das tecnologias digitais e começava a se manifestar em diversas partes do mundo. Esse tipo de ativismo midiático tinha nas tecnologias digitais de comunicação um válido instrumento para reforçar as organizações, seja local ou globalmente, permitindo a coleta capilar de fundos, facilitando a coordenação internacional de campanhas e protestos, obtendo e difundindo informações, denúncias e petições. Em termos gerais, nessa primeira fase, o ciberativismo referia-se ao uso da Internet para dar suporte aos movimentos globais e às causas locais, utilizando as arquiteturas informativas do primeiro tipo de Internet para disseminar informações, promover a discussão coletiva de ideias e a proposta de ações, criando canais de participação e difundindo estilos e práticas experimentais de conflitualidade. (FELICE, 2017, p.101).

Podemos chegar à compreensão de que o ciberativismo, ou ativismo digital, surge como uma resposta ao ambiente contemporâneo em que as fronteiras físicas são desafiadas pela interconectividade proporcionada pela internet. Jovens ativistas, imersos em uma cultura digital, tornam-se protagonistas em movimentos que transcendem os limites geográficos e sociais, nas palavras de Di Felice (2017, p.53):

[…] Uma nova ecologia comunicativa pouco a pouco reuniu mundos, até pouco tempo antes, desconhecidos e sem comunicação entre si, tornando-os próximos e interagentes.

Essa participação juvenil nas redes vai além da simples adesão a causas; ela se manifesta na criação de conteúdos, na organização de protestos virtuais, na mobilização de comunidades online e na articulação de agendas políticas. Em um cenário onde os cliques podem gerar mobilizações massivas, os jovens são capazes de construir narrativas e de pressionar por mudanças, influenciando decisivamente na agenda pública e na garantia de direitos.

As redes digitais oferecem um espaço dinâmico onde as interações sociais são reconfiguradas. A conectividade permite que jovens de diferentes contextos socioeconômicos, culturais e geográficos se conectem, compartilhem experiências e ideias, e construam coletivamente estratégias para enfrentar desafios globais como as mudanças climáticas, a desigualdade social e a violação de direitos humanos. No entanto, essa potencialidade das redes em promover a inclusão e a diversidade também está sujeita a tensões. O acesso desigual à internet e o controle sobre as plataformas digitais podem reproduzir e até mesmo intensificar as desigualdades sociais, limitando o alcance e a eficácia das ações de ciberativismo. Além disso, o excesso de informações e a disseminação de fake news colocam em risco a qualidade das mobilizações e a própria legitimidade das demandas apresentadas.

É importante salientar que, para além das relações entre humanos, as redes também nos colocam de frente com a relação com sujeitos não-humanos, assim como nos destaca Lévy (1999) em seu livro “Cibercultura”, na voz do autor:

O ciberespaço não compreende apenas materiais, informações e seres humanos, é também constituído e povoado por seres estranhos, meio textos, meio máquinas, meio atores, meio cenários: os programas. Um programa, ou software, é uma lista bastante organizada de instruções codificadas, destinadas a fazer com que um ou mais processadores executem uma tarefa. Através dos circuitos que comandam os programas interpretam dados agem sobre informações transformam outros programas fazem funcionar computadores e redes acionam máquinas físicas viajam reproduzem-se etc. (LÉVY, 1999, p.41).

Desse modo, a garantia de direitos emerge como uma questão central. O ciberativismo, ao se articular em torno da defesa de direitos humanos, ambientais e sociais, promove um debate sobre o papel das tecnologias digitais na construção de um desenvolvimento sustentável e inclusivo. A luta por direitos, especialmente entre os jovens, está intrinsicamente ligada à demanda por um ambiente digital que respeite a liberdade de expressão, a privacidade e a acessibilidade. Para que os cliques possam efetivamente se transformar em progresso, é necessário que as plataformas digitais sejam reguladas de forma a proteger os direitos dos usuários e a promover a equidade de acesso e participação.

Por fim, é necessário nos instrumentalizar de ferramentas para entender como os jovens se apropriam das tecnologias digitais não apenas como instrumentos de ação, mas como espaços de construção de identidade e cidadania. O ciberativismo juvenil é uma expressão da busca por pertencimento e reconhecimento em uma sociedade globalizada, onde as lutas por direitos e sustentabilidade estão cada vez mais interligadas. O desafio, portanto, é garantir que esses percursos digitais conduzam a um desenvolvimento que seja verdadeiramente inclusivo, sustentável e que respeite as diversas vozes que ecoam nas redes.

Assim, a relação entre ciberativismo, redes digitais e a garantia de direitos destaca a complexidade dos desafios enfrentados na busca por um desenvolvimento sustentável. Os jovens, ao se mobilizarem por meio das tecnologias digitais, revelam não só o potencial transformador das novas formas de ativismo, mas também as limitações e os riscos que essas práticas enfrentam em um mundo cada vez mais digitalizado. A luta pelo progresso sustentável, portanto, passa pela necessidade de garantir que as ferramentas digitais sejam usadas de forma ética e inclusiva, promovendo uma sociedade mais justa e equitativa para todos.

REFERÊNCIAS
FELICE, Massimo di. Net-ativismo: da ação social para o ato conectivo. São Paulo: Paulus, 2017. 288 p.

LÉVY, Pierre; DUARTE, Milton Fernandes. Cibercultura. São Paulo: Editora 34, 1999. 264 p. Tradução: Carlos Irineu da Costa.

A Páscoa de Francisco: Um legado de alegria, misericórdia e esperança para uma Igreja em saída, ressuscitada com Cristo

Que cada jovem, olhando para o legado de Francisco, se sinta provocado a viver com a mesma alegria que contagiava, com a mesma misericórdia que abraçava e com a mesma esperança que insistia em recomeçar

Peregrinos da Ressurreição: Elas se lembraram das palavras

Por Alessandra Custodio “…Por que vocês procuram entre os mortos aquele que está vivo? Ele não está aqui. Ressuscitou!” (Lc 24,5-6)¹ . O anúncio na madrugada daquele dia àquelas mulheres quebra o silêncio e a distância, a Luz se faz presente e o medo já não existe mais. Há a esperança de reencontrá-lo e são […]

Anchietanum se reúne para preparar Experiência MAGIS De Inserção Sociocultural

Reunião virtual reuniu oito representantes da Rede Jesuíta de Educação e do Centro MAGIS Anchietanum com objetivo de alinhar datas, definir tarefas e articular frentes de atuação da Experiência MAGIS de Inserção Sociocultural

Vigília ecumênica marca início da Semana Santa com oração no estilo Taizé

Encontro reuniu cerca de 100 pessoas na Paróquia Imaculada Conceição, em São Paulo, promovendo unidade entre diferentes tradições cristãs