Juventudes e a crise socioambiental: caminhos para fazer as pazes com o tempo

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Rocheli Koralewski

Por Rocheli Koralewski Cientista social e educadora Mestra em Ciências Humanas Especialista em Juventudes

Pensar juventudes no contexto da crise socioambiental exige reconhecer que estamos
diante de uma geração que vive e se forma em meio a profundas transformações sociais, culturais
e ambientais.


A juventude, entendida como uma categoria construída socialmente (Groppo, 2017), é
marcada simultaneamente por condições materiais de vida (somos em grande parte, juventudes
trabalhadoras) e por processos simbólicos que moldam como os(as) jovens percebem a si
mesmos(as) e o mundo que os(as) rodeia. Inseridos(as) em uma realidade de constantes
transformações, esses sujeitos enfrentam uma crise que não é apenas ambiental ou social, mas
uma crise socioambiental complexa, conforme propõe o Papa Francisco na Laudato Si’.

A crise, como lembra a professora Andreia Zhouri (2023), pode ser compreendida como
corte ou decisão. Tomada como corte, conduz ao desânimo, à naturalização da catástrofe e à
adesão a falsas soluções “pintadas de verde” que mantêm a mesma lógica econômica destrutiva.
Vista como decisão, abre espaço para revisões profundas, rupturas e reorientações éticas capazes
de produzir novas formas de vida. A advertência de Ailton Krenak (2022) reforça essa escolha:
desistir do futuro é renunciar às memórias ancestrais da Terra e à possibilidade de imaginar
mundos outros.


Ao abordar juventudes, é impossível ignorar o papel decisivo que o tempo desempenha
na constituição subjetiva e política dessa categoria. A modernidade tardia, marcada por
aceleração constante e compressão espaço-tempo, como explicam Anthony Giddens (1991) e
David Harvey (1992), produz sensações de instabilidade, risco, incerteza e angústia.

A aceleração do cotidiano, denunciada também na Laudato Si’ (225), faz com que jovens
vivam numa urgência contínua, elemento que afeta diretamente a relação com o futuro e com a
construção de um projeto de vida. Em um mundo que corre rápido demais, “fazer as pazes com o
tempo” se torna uma tarefa política: é preciso recuperar o ritmo da reflexão, o valor da pausa e a
possibilidade de amadurecer o futuro

Apesar dos discursos que desqualificam a nossa atuação (“jovens não querem nada”,
“jovens não se interessam”, “jovens não têm a experiência necessária), os dados mostram o
contrário: boa parte da juventude brasileira reconhece as desigualdades produzidas pela crise
climática, já mudou hábitos, participa da vida política e defende transformações estruturais
(Juma, 2024). Essa disposição revela que juventudes não são apenas vítimas da crise, mas
protagonistas de processos decisórios que atravessam gerações. A perspectiva da justiça
intergeracional reforça essa responsabilidade compartilhada: o direito dos jovens a um meio
ambiente equilibrado implica também o dever coletivo de preservar as condições de vida para o
futuro

A abordagem da complexidade, proposta por Edgar Morin (2011), ajuda a compreender a
atuação juvenil em múltiplas escalas: individual, comunitária, local e global. Nenhuma delas
existe de forma isolada; todas se entrelaçam em redes de interdependência que exigem ações
integradas. É nessa tessitura que, desde os anos 70, emergem movimentos do Sul Global capazes
de mobilizar territórios inteiros, como o Chipko na Índia, o trabalho de Wangari Maathai no
Quênia ou iniciativas brasileiras como o Movimento Jovens do Futuro do Comitê Chico Mendes,
Perifa Connection, Eco pelo Clima, entre outros.

Diante disso, a questão central não é apenas entender o que a juventude pensa ou faz, mas
qual futuro desejamos amadurecer coletivamente. Redefinir o modelo de progresso, realinhar a
vida ao tempo da Terra, escutar a voz dos biomas e reconhecer os saberes ancestrais como guias
são passos essenciais para enfrentar a crise socioambiental sem reproduzir a lógica destrutiva que
a gerou. As juventudes, com sua capacidade de reflexão, sensibilidade ao risco e potência de
mobilização, estão entre as principais forças para orientar essas novas trajetórias.

Referências

GIDDENS, Anthony. As conseqüências da modernidade. São Paulo: UNESP, 1991.
GROPPO, Luís Antonio. Introdução à Sociologia da Juventude. Jundiaí: Paco Editorial, 2017.
HARVEY, David. Condição Pós-Moderna. 13 ed. São Paulo: Edições Loyola, 1992.
KRENAK, Ailton. Futuro Ancestral. 1ª. ed. São Paulo: Companhia das Letras, 2022.
KRENAK, Ailton. Ideias para adiar o fim do mundo. 1ª. ed. São Paulo: Companhia das
Letras, 2019

MORIN, Edgar. Introdução ao Pensamento Complexo. 4 ed. Porto Alegre: Sulina, 2011. Pesquisa Juventudes, meio ambiente e mudanças climáticas. JUMA. {S.L.]: [S.N.], 2022. 97 p. Relatório nacional – novembro de 2022. Disponível em: . Acesso em: 30 out. 2025. ZHOURI, Andréa. Crise como criticidade e cronicidade: a recorrência dos desastres da mineração em minas gerais. Horizontes Antropológicos, Porto Alegre, v. 29, n. 66, p. 1-31, 2023. Disponível em: Acesso em: 20 out. 2025.

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