DIA MUNDIAL DE PREVENÇÃO AO SUICÍDIO

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Um alerta sobre os benefícios da escuta ativa e amorosa

Daniele Batista de Sousa
(Psicóloga e Psico-oncologista pós-graduada em Psicanálise Winnicottiana e em Cuidados Paliativos. Membro do Projeto Cuidar da Vida: Prevenção ao suicídio de adolescentes e jovens – uma ação da Comissão Episcopal para Juventudes em parceria com a CNBB.)

O mês de setembro nos convoca para um estado de alerta, um sinal amarelo que nos aponta para a importância do cuidado com a vida, em especial para o cuidado com aqueles e aquelas que se encontram em sofrimento emocional e psicológico. A condição de sofrimento pode se dar por múltiplos fatores, sabendo-se que cada sujeito o experimenta de maneira muito pessoal e subjetiva.

CONCEITO E FATORES DE RISCO

Convém atenção, pois, para uns, o sofrimento pode ser tão avassalador e insustentável que a busca por meios para saná-lo, encontrar uma solução, ver-se livre, considera alternativas extremas que ponham fim ao que causa essa dor existencial, entretanto, também impõem o fim à própria vida. Do latim “sui” (si mesmo) e “caederes” (ação de matar), a palavra suicídio se refere ao ato de matar a si mesmo/a. Contudo, o que notamos é que tal ação não teria como desejo genuíno a morte de si, mas exterminar o sofrimento, aquilo que pouco a pouco furta o ânimo de viver.

Atualmente, de acordo com a Organização Mundial da Saúde, o suicídio é a terceira causa de morte entre os jovens do Brasil, sabendo-se que a cada 40 segundos há uma morte por suicídio no mundo. Esse fenômeno complexo envolve fatores psicológicos, sociais, ambientais, familiares e culturais, podendo ou não estar associado a transtornos mentais diagnosticáveis.

Dentre os fatores psicológicos, além do próprio adoecimento psíquico, salienta-se o impacto da dificuldade de acesso ao sistema de saúde e também o preconceito que ainda nos ronda no que se refere aos cuidados com a saúde mental. Fatores sociais podem envolver desemprego e suas diversas consequências, como empobrecimento e baixa autoestima; além de dizer sobre algumas profissões que tendem a gerar maior vulnerabilidade emocional, ou seja, atuações em que o serviço ao outro pode despertar sentimentos de impotência e prejudicar o autocuidado. Junto a fatores ambientais e familiares, destaca-se, em fatores culturais, as questões de gênero e orientação sexual, em que o preconceito, a violência e a intolerância, por exemplo, contribuem para o sentimento de falta de pertencimento e acolhimento, podendo desencadear importante fragilidade emocional.

SINAIS DE ALERTA E FATORES PROTETIVOS

Podemos considerar que, inicialmente, há pensamentos (ideação) voltados para a possibilidade de se matar, sucedido por um plano para executá-lo e a tentativa, que pode culminar na concretização do suicídio. Geralmente, sinais de comportamento, verbais e não verbais, diretos ou indiretos, antecedem as tentativas de suicídio. Identificar esses sinais pode favorecer a prevenção e a oferta de cuidado à pessoa que sofre essa dor psicológica insuportável, que muitas vezes apresentará um comportamento ambivalente, oscilando entre a vontade de pôr fim à própria vida e o desejo de viver.

A desesperança, o desânimo, o desespero e a depressão tendem a se fazer presentes. Observar alterações bruscas de humor, mudanças acentuadas de comportamento e rotina, e até mesmo afirmações como “Gostaria de estar morta” ou outras indiretas como “Não posso mais aguentar isso” são indícios de risco à vida. Vivência complicada de luto, vontade súbita de concluir afazeres ou mesmo comportamentos com conotação de partida, além de cartas de despedida, também devem ser vistos como sinais de alerta que podem indicar importante sofrimento e risco à integridade física.

Por outro lado, possuir vínculos afetivos e uma rede de apoio ativa, práticas religiosas funcionais, ocupações que façam sentido para a pessoa e lhe agreguem valor, ter ocupação laboral, hábitos saudáveis e cuidados gerais com a saúde mental somam elementos que atuam como proteção contra o suicídio, uma vez que podem propiciar redução de sofrimento emocional e corroborar o fortalecimento de recursos psíquicos.

PREVENÇÃO E AÇÃO

Os fatores protetivos contribuem com a prevenção, no entanto, a escuta ativa e a acolhida genuína têm papel essencial nas situações de risco e sofrimento iminente. Se dispor à escuta generosa e livre de julgamentos, priorizar fazê-lo em local reservado, dedicando tempo, mantendo respeito, validando os sentimentos da pessoa e permitindo que fale abertamente, sem interromper ou pressionar, são passos preciosos. Caso apresente ideação ou tentativa no presente momento, deve-se manter a pessoa acompanhada, não expô-la, porém sinalizar a importância de cuidados adequados e de acionar quem possa oferecer o devido suporte.

Necessário destacar que perguntar sobre suicídio não induz ao ato! Perguntar sobre tais pensamentos oferece espaço para que o/a outro/a se expresse, entre em contato com suas emoções e sinta-se acolhido/a, sinta que sua dor foi escutada. Lembremos que perguntar sobre isto é diferente de ter atitude de curiosidade invasiva e julgadora.

Pensar em suicídio não é fraqueza, não é falta de fé, não é coragem, não é loucura… é sinal de muito sofrimento, um sofrimento avassalador e que somente a própria pessoa poderia tentar mensurar. Diante de tamanha dor, o convite é, inspirados/as pela Exortação Apostólica escrita pelo Papa Francisco (EG 169), aprendermos a descalçar sempre as sandálias diante da terra sagrada do outro, com especial atenção a quem sofre, em quem o próprio Cristo sofre.

O olhar sensível e atento para quem nos rodeia pode identificar situações de risco e, assim, podemos dispor de uma escuta ativa e amorosa, que dê vazão ao sofrimento, promovendo esperança e viabilizando a busca por sentidos. E se você é a pessoa que está vivendo uma profunda angústia, converse com alguém de sua confiança e compartilhe seus sentimentos, juntos podemos buscar caminhos de consolação e fortalecimento. A dor que invade é sinal da necessidade de ser escutado/a, de ser visto/a em sua singularidade e ser amado/a a partir de sua própria história de vida.

ALGUNS CONTATOS

Além dos atendimentos especializados oferecidos em UBS (Unidades Básicas de Saúde) e nos CAPS (Centro de Atenção Psicossocial), temos o CVV (Centro de Valorização à Vida), que conta com serviços de suporte emocional e prevenção ao suicídio através dos contatos: www.cvv.org.br ou por telefone: 188. É possível também identificar atendimentos psicológicos gratuitos ou por valor social em sua região e nas “clínicas escolas” de universidades.

REFERÊNCIAS

  • Botega N.J. (org.) Prática psiquiátrica no hospital geral: interconsulta e emergência. Porto Alegre: Artmed, 2006.
  • Fonte: https://www.setembroamarelo.com/. Acesso em: 07 set. 2024.
  • Vale L.D.A. E foram deixados para trás: uma reflexão sobre o fenômeno do suicídio. São Paulo: Loyola, 2017.
  • Rezende F. (2019). Suicídio como desamparo humano: o fenômeno no olhar winnicottiano. São Paulo, SP: Fontenele Publicações.
  • ______. Exortação Apostólica Evangelii Gaudium sobre o anúncio do Evangelho no mundo atual. São Paulo: Paulinas, 2014.

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