Pe. Élio Gasda, SJ
Por Pe. Élio Gasda, SJ: Padre/Jesuítas Brasil, professor de Teologia Moral Social/Faculdade Jesuíta de Filosofia e Teologia
A era dos alertas. Faltam 89 segundos para a meia noite, indica o “Relógio do fim do mundo”. Sete dos nove limites de manutenção da vida no planeta não só foram quebrados como apresentam forte tendência de deterioração. Acumulamos um crescente número de evidências de que estamos preparando um futuro sombrio para um planeta com 4,5 bilhões de anos. “O céu está caindo sobre nossas cabeças”? (Davi Kopenawa). “O mundo está desmoronando e se aproximando de um ponto de ruptura? (Papa Francisco). Como chegamos a isso? “Não basta identificar sintomas. É preciso identificar as raízes humanas da crise” (LS, 101).
A espécie humana tem pouco mais de 200 mil anos. Contudo, bastaram três séculos para alterar de forma irreversível a era geológica da terra e inaugurar o Antropoceno (Stoermer/Crutzen). O fator determinante gerador da atual crise socioambiental não foi toda a espécie humana, mas a expansão do sistema econômico chamado capitalismo, ou melhor, Capitaloceno (Moore). Suas origens remontam à invasão, conquista e colonização de territórios posteriormente denominados América e África. Este sistema tem se mostrado devorador de mundos e de pessoas com a única finalidade de acumular riquezas. Os mais ricos, os bilionários, as grandes empresas são os principais responsáveis pela destruição da natureza e pelo colapso social.
O acúmulo de crimes praticados pelo capitalismo contra o planeta, contra a natureza, contra a humanidade e contra as futuras gerações tem um nome: Ecocídio! E, assim como a natureza, também alguns grupos humanos são deixados para morrer: Necropolítica! Há “partes da humanidade sacrificável em benefício duma seleção que favorece a um setor humano digno de viver sem limites” (FT, 18). 80% dos pobres do mundo vivem em regiões de alto risco climático (ONU). Aos ricos, o lucro. Aos pobres, a morte.
Há um poder global que decide quem vive e quem morre (Achille Mbembe). Tem gente demais no planeta atrapalhando interesses. Os ataques aos mais pobres, aos povos indígenas e tradicionais, a violência policial-militar, as guerras, são sinais de que o capitalismo está funcionando. Mudanças climáticas, desmatamento, poluição, secas, inundações, incêndios florestais, destroem cultivos e tornam inabitáveis regiões inteiras, provocam a fome e geram deslocamentos forçados de milhões de pessoas e espécies. Conforme as temperaturas sobem, aumenta o número de vidas perdidas e de danos irreversíveis aos ecossistemas. O planeta não suporta mais. “O atual sistema mundial é insustentável sob diversos pontos de vista” (LS, 139). O pior ainda está por vir?
“É tempo de pôr travas a esse trem descontrolado que nos está levando ao abismo. Ainda há tempo” (Papa Francisco). Na busca por “ideias para adiar o fim do mundo” (Ailton Krenak) é preciso agir imediatamente: descarbonizar a economia, interromper o desmatamento, conter a mineração, recuperar milhões de florestas, descontaminar rios e oceanos, reduzir as emissões dos mais ricos, fazer os poluidores ricos pagarem. Promessas? Falsas esperanças? Adiamento do colapso?
Mudar o sistema ou adaptar-se ao colapso? Ações de curto prazo não bastam. Urge romper com o capitalismo. A economia deveria ser planejada como um subsistema no interior de um sistema maior no qual está inserido (Georgescu-Roegen). Isso somente será possível se a natureza for reconhecida como um ser vivo e a espécie humana como parte de um sistema de vida complexo e interligado. A justiça é seu princípio orientador.
Justiça! A relação de justiça entre os membros da espécie humana deve ser de fraternidade. No clamor dos pobres ressoa o grito por justiça social. No clamor da terra ressoa a ecojustiça. Não se pode combater a pobreza sem enfrentar a crise climática e vice-versa. Ecojustiça significa cuidado e cultivo responsável por toda a Criação (Gn 2,15). A terra é a casa comum da única comunidade da Criação. “Formamos com os outros seres do universo uma estupenda comunhão universal” (LS, 220). Estamos tão unidos à natureza que a extinção de uma espécie representa uma perda irreparável, como se fosse uma mutilação (LS, 89). A tarefa de reconciliação e justiça envolve toda a Criação. Esperançar ativamente na reconciliação universal significa viver uma relação de amor para com todas as criaturas.
Para a geração Laudato Si’, o apelo é permanente: “Instrui-vos porque temos necessidade de vossa inteligência. Agitai-vos, porque temos necessidade de todo vosso entusiasmo. Organizai-vos, porque teremos necessidade de vossa força” (Antonio Gramsci).
“Em nome de Deus, defendam a Mãe Terra!” (Papa Francisco).


